segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A apresentação

A apresentação - by Roquete

Dears sirs,
Permitam-me que me apresente e que também vos conte algumas histórias. Não consigo compreender como ninguém nos questiona. Gostam de nos ouvir, mas não nos dão voz… 

Sim porque sem mim e outras semelhantes, ninguém teria viagens, relatos, sensações, paixões, nem aquele sentimento inexplicável de profunda liberdade, como quem vive num limbo entre o céu e a terra!


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Eu sou a voluptuosa Roquete (só para os amigos), e sou a mais poderosa descendente de uma família antiga e venerada, a real Triumph.

Funciono a 3 cilindros, tenho 2,5 metros de cumprimento, 320 kg a seco, 2300cc, 142cv e um binário de 20,4 kg.f às 2.500 rpm. Nasci no país do nevoeiro e da chuva, e por lá andei. Quando me disseram que vinha para um paraíso de Sol, só conseguia imaginar as estradas sorridentes por onde iria deambular. 

De momento vivo na garagem dele e da outra, numa aldeia sossegada, onde o ruído mais estridente é o grito de alguma, rara, águia que risca os céus ou os latidos dos peludinhos que também por lá habitam.

Vamos sempre os três e já tive o prazer de os levar a diversos locais destas paisagens. Gosto deles porque são como eu. Não vamos para lá chegar, vamos apenas por ir… Por isso os nossos passeios são sem destino, sem GPS, sem almoço marcado nem locais de relevância para visitar – apenas alcatrão! E de preferência do bom!

Isto faz-me lembrar um passeio para os lados de Penela, com outro amigo e a sua Barbie, em que estava previsto irmos visitar uma nascente no meio de uma serra. Até aí tudo bem. O caso ficou mais escuro quando deparamos com um estradão e não uma estrada. Do alto dos meus cavalos disse: “Isto faz-se bem!”. A subida acentuou-se significativamente e o caminho mostrava as marcas deixadas pela chuva do Inverno. Rasgos profundos na terra onde tinham colocado areia e cascalho solto. Pois é, com o meu peso (leve) e mais os quilitos dele e da outra, comecei a sentir o terreno a ceder… Valeu-me a peseira, o tubo de escape e as malas, que suportaram o peso. Ele ficou de pé, a outra fez meia pirueta com enrolamento à retaguarda numa perfeita demonstração de ginástica clássica.
Depois… deram-me uma ajudinha para me endireitar, sacudir o pó e estacionei mesmo ali para compor a minha beleza (porque uma dama nunca sai desarranjada). Lá voltamos para trás e continuamos caminho. Entretanto ele exclama: “eu bem me queria parecer que isto não é uma trail”.
Doeu… doeu quando ele se referiu a mim como “isto”. Já se tinha esquecido dum outro passeio anterior onde tive que mostrar às outras Barbies que foram connosco, como uma Roquete faz as curvas da Serra da Lousã… com muito estilo e sensualidade! Aí, ele gostou! Com toda a minha dimensão, contornar aquelas curvas não é fácil, mas ele soube-me convencer. E eu, que nem contorcionista de circo, dei-lhe um dia magnífico.

Saímos cedo e voltamos a casa no fim do dia, eles aconchegam-me a capa e dizem: “Boa noite, até à próxima!”


Nota:
Foto gentilmente cedida por um amigo que tem uma Barbie, mas ele qualquer dia conhece a luz Like a Star @ heaven


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